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DESTAQUE – Na Amazônia atingida pela seca, os temores sobre pavimentação de estradas aumentam à medida que os rios secam

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Secas frequentes causam estragos no transporte fluvial da Amazônia

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Governo brasileiro instado a pavimentar estradas em resposta

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Desmatamento deverá aumentar junto com obras rodoviárias

Por André Cabette Fabio

REALIDADE, Brasil, – Atrás de uma estreita borda de árvores, um pulverizador espalha nuvens de agroquímicos nos vastos campos de soja que se estendem em ambos os lados da rodovia BR-319, que corta profundamente a floresta amazônica brasileira.

À medida que o asfalto da estrada se desgasta mais a norte, os camiões de transporte de madeira ziguezagueiam para evitar os muitos buracos ao longo da principal artéria de transporte, que se estende por 885 km e passou a simbolizar a tensão entre os projectos de infra-estruturas e a protecção ambiental na maior floresta tropical do mundo.

Ligando Manaus, capital do estado do Amazonas, e Porto Velho, capital do estado de Rondônia, a estrada perdeu a maior parte de sua pavimentação desde que foi construída na década de 1970 – o que significa que muitos trechos são reduzidos a um lamaçal durante a estação chuvosa de seis meses.

Agora, enquanto uma série de secas ligadas às mudanças climáticas complicam o transporte fluvial na região, o governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva prometeu repavimentar a BR-319.

Pesquisadores da Amazônia temem que reparar a estrada possa desencadear um aumento no desmatamento no estado do Amazonas, que abriga a maior parte da floresta tropical mais bem preservada do Brasil, ameaçando potencialmente o progresso de Lula na contenção da perda florestal para combater as mudanças climáticas.

Mas os apelos para a reconstrução da estrada estão cada vez mais altos.

Durante uma seca recorde no ano passado, agricultores e residentes tiveram que depender da BR-319, uma vez que as vias navegáveis ​​normalmente movimentadas da Amazónia afundaram para os seus níveis mais baixos, tornando quase impossível a navegação por elas.

Já em 2013, foram retomadas as obras de manutenção no trecho de terra da estrada que atravessa o bairro da Realidade, no município de Humaitá, reduzindo drasticamente o tempo de chegada à cidade principal e além. As obras de pavimentação ainda não começaram.

O prefeito de Humaitá, Dedei Lobo, está feliz – ele espera uma seca ainda mais severa a partir de maio deste ano, então a estrada será necessária, especialmente porque os rios ainda estão abaixo dos níveis médios.

Questionado sobre as preocupações ambientais relacionadas com as reparações nas estradas, Lobo as rejeitou como “uma moda lançada por ONGs financiadas por países do Primeiro Mundo que têm trens, metrôs, bondes, etc.”, enquanto tratava os moradores da Amazônia como “vivendo em um altar”.

As reservas ambientais já estabelecidas ao redor da BR-319 devem deter o desmatamento, desde que o governo federal reative os postos de fiscalização abandonados, acrescentou.

Mas a Rede Transdisciplinar da Amazônia, um conjunto de grupos ambientalistas de base da área ao redor da estrada, disse que o trabalho realizado na BR-319, perto de Realidade, já está elevando os preços dos terrenos.

Isto está a alimentar a apropriação de terras e a desflorestação, disse Dioneia Ferreira, coordenadora da RETA.

Os ambientalistas também temem que o desenvolvimento de estradas leve madeireiros, agricultores e grileiros a estenderem estradas vicinais não autorizadas mais profundamente na floresta, num padrão conhecido como “espinhas de peixe” devido à forma como as estradas vicinais parecem vistas do espaço.

De acordo com análise de 2023 do Observatório BR-319, 5.092 km de vicinais ilegais foram construídos ao longo da rodovia.

CÍRCULO VICIOSO?

Quando regressou ao poder em 2023, Lula prometeu proteger a Amazónia, mas também aceitou uma exigência fundamental do poderoso lobby agrícola brasileiro e de muitos habitantes locais, ao prometer pavimentar a BR-319 – a um custo estimado em cerca de 2 mil milhões de reais.

Em dezembro, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei para flexibilizar as regras ambientais para que a BR-319 pudesse ser pavimentada.

O projeto de lei, que ainda precisa de aprovação do Senado, autoriza o uso de fundos de conservação doados ao Brasil para financiar o projeto, como o Fundo Amazônia de US$ 1,3 bilhão, apoiado pelos EUA e aliados europeus.

O governo planeia pavimentar o troço intermédio de 406 km da estrada até 2027 e, no final de Abril, lançou um processo de licitação para pavimentar um troço norte de 20 km da estrada, que já obteve licenças ambientais.

Alguns analistas temem que a expansão de estradas na frágil região amazónica possa exacerbar os mesmos problemas que criaram a necessidade de mais ligações de transporte terrestres.

“A pavimentação da estrada… também tem efeitos sobre o desmatamento, o que pode aumentar o risco de secas”, disse Carlos Souza Jr., do instituto ambiental Imazon.

A densidade rodoviária na Amazônia aumentou 51% entre 2012 e 2020, e as estradas agora perturbam 55% da área da floresta, de acordo com um estudo da Rede de Informação Socioambiental Georreferenciada da Amazônia, um consórcio transnacional de organizações ambientais da Amazônia.

Em locais como Realidade, nem todos pensam que mais desflorestação seria necessariamente uma coisa má.

Sentado em uma rodoviária ao lado da BR-319, na principal vila do distrito, o cafeicultor Norberto Lauret disse que o desmatamento “traz o pão de cada dia e evita que as pessoas tenham que ir morar nas grandes cidades”, embora tenha dito que o desmatamento deve ser feito em acordo com a lei.

O processo está bem encaminhado. Entre 2012 e 2022, houve um salto de 20 vezes no desmatamento anual em Humaitá, de acordo com o Instituto de Pesquisas Espaciais do Brasil, consolidando o status do sul do estado do Amazonas como uma nova fronteira para o agronegócio e a perda florestal.

Atraindo agricultores, Realidade alcançou o status de distrito em 2019 e hoje conta com pequenos restaurantes, lojas de fazenda, mercados e igrejas evangélicas.

ESTRADAS LATERAIS E ANTENAS PARABÓLICAS

Os defensores da repavimentação da BR-319 negam que a estrada tenha provocado o desmatamento.

“A estrada está aberta há 50 anos… e não houve desmatamento” em sua porção central não pavimentada, disse o deputado Coronel Chrisostomo em seu gabinete em Porto Velho, ladeado por recortes de papelão em tamanho real dele e de ex-famosos. -direita Presidente Jair Bolsonaro.

Muitas pessoas afetadas negativamente pelo desmatamento também veem benefícios na pavimentação da BR-319, já que estradas vicinais tornam áreas remotas mais acessíveis.

Entre elas está a Linha 17, uma estrada vicinal que saiu da Realidade em 2016, passando por comunidades florestais tradicionais e, segundo Ferreira, da RETA, trazendo madeireiros, grileiros e pecuaristas para o interior.

À medida que os pomares de nozes e açaí foram destruídos e a erosão causada pelo desmatamento turvou as áreas de pesca, a comunidade ribeirinha de Pirapitinga viu suas fontes tradicionais de renda diminuirem, levando alguns a explorar ilegalmente ouro no rio.

Embora o desmatamento descontrolado seja desaprovado, muitos na comunidade aprovam a Linha 17, que foi usada pelo governo para eletrificar a área no ano passado.

“Agora você pode chegar à Realidade de moto e fazer compras num piscar de olhos”, disse o coletor florestal e camponês Cimião Alves, apontando para sua antena parabólica e uma bomba elétrica puxando água do rio próximo.

Apesar da votação no Congresso para alocar recursos para o projeto de pavimentação de estradas, permanecem dúvidas sobre se ele receberá aprovação do Ministério do Meio Ambiente.

No ano passado, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse ao Congresso que a lógica ambiental e econômica da estrada ainda não foi comprovada.

Depois de vender propriedades em outras partes da Amazônia, o agricultor José Antonio de Freitas se reassentou em Realidade em 2010, atraído por terrenos maiores na nova fronteira.

Ele está confiante de que Lula será capaz de levar adiante o projeto, citando seu histórico em projetos controversos de infraestrutura na Amazônia.

“Os oponentes não pensam em crescimento e desenvolvimento”, acrescentou. “Se eu pago impostos por um caminhão… então você tem que me dar condições de dirigi-lo.”

Este artigo foi gerado a partir de um feed automatizado de uma agência de notícias sem modificações no texto.

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